terça-feira, 12 de abril de 2011

O preço do Livro

Sempre fui leitora, mas há quase três anos além de ser leitora comecei a participar mais ativamente do processo de publicação do objeto LIVRO através do contato que tive com editoras, trabalhando como divulgadora escolar de obras literárias. Para quem não vive esta experiência, dizer que o LIVRO É CARO é uma coisa comum.
De fato, algumas obras que vemos no mercado possuem um valor elevado, se tivermos como base o salário mínimo. No entanto, na via oposta, há obras muito acessíveis, custando menos de R$ 10,00, valor que muitas vezes as pessoas gastam em uma mesa de bar, comprando duas cervejas, para satisfazer um prazer imediato. A Literatura é um prazer que não se esgota. O que acontece no caso do livro, como muito bem observa o escritor Caio Riter em seu "A formação do leitor literário em casa na Escola" (Editora Biruta, 2010, 104 páginas) é que livro não é considerado uma necessidade, por isso achamos caro. Por isso tiramos xerox ao invés de comprar a obra completa,com todo o recurso editorial que a compõe. Não prestigiamos o autor da obra, que com estes processos "atravessados" acaba não recebendo (sim, falo de valores em reais) sobre o produto do seu trabalho (sim, escritor trabalha, e muito, para publicar o seu texto).
Por mais que a obra literária pertença também ao seu leitor, que lhe dará uma significação própria, não podemos esquecer que, para que ela existisse, lá atrás havia um escritor que tornou possível esta catarse. É justo que ele receba por seu precioso trabalho. Trabalho que nem sempre é valorizado como deveria. Trabalho que não pode ser feito por "qualquer um", embora muita gente pense poder fazer igual ou semelhante. Já cheguei ao absurdo de ler de um "aspirante a escritor" que o motivo que o fazia pensar nesta carreira era poder PARAR DE TRABALHAR, ficar só em casa refletindo e escrevendo e vivendo somente disso. Isso mostra que a pessoa não tinha a menor noção de o que é ser escritor. Existe todo um glamour em torno desta palavra, as pessoas quando falam em ser escritor acreditam que do dia para noite virarão best-sellers, venderão bilhões de cópias e ficarão vivendo dos frutos de seus direitos autorais com muito conforto. A realidade é muito mais dura do que isso, sinto informar. Se é fato que existem escritores que ganham rios de dinheiro (raríssimos e a grande maioria destes são autores de não-ficção e auto-ajuda) é fato também que existe uma verdadeira legião de escritores que precisa ter um emprego (normal, de carteira assinada, horários e tudo) para poder se sustentar. Vale lembrar que Moacyr Scliar nunca deixou de ser médico embora fosse um imortal da ABL premiadíssimo. Muitos escrevem em jornais como colunistas ou mesmo são jornalistas, são professores, são médicos, enfim. Viver Literatura é um sonho almejado por muitos, mas alcaçado por poucos. E os que alcançam este patamar são aqueles que foram persistentes o suficiente para não desistir no meio do caminho tão tortuoso. Para se ter uma ideia, as edições são feitas, geralmente, em tiragens de 3.000 exemplares e leva-se ANOS para esgotá-las. Não é nada fácil.
Contudo, é necessário que aquele que se diz leitor reveja sua postura diante deste objeto que tanto o atrai - O LIVRO. Fico entristecida sempre que ouço a frase "livro é caro", pois para mim revela muito mais do que a pessoa não ter dinheiro para comprá-lo, revela a sua total falta de interesse nele. Isso fica mais evidente se formos analisar a forma como cada um gasta o seu dinheiro. Tenho plena convicção de que, se a pessoa é mesmo um apreciador de boas obras, poderá mensalmente separar um valor para comprar um livro e montar sua biblioteca. Espero que um dia todo mundo conheça o prazer de ter uma estante recheada de bons títulos literários. Agora, se comprar livros lhe causar dor, sinto informar, mas você NÃO É leitor.

2 comentários:

Mauricio Schwartz disse...

Pois então, na minha opinião, se formos colocar a profissão de escritor como um ganha pão, não podemos apenas trabalhar para o nosso prazer, ao contrário, devemos trabalhar para o nosso público.
Você citou que, em alguns casos uma tiragem unica de 3000 exemplares, é comercializada no período de anos, no meu ponto de vista comercial, essa criação é um fracasso (do ponto de vista comercial).
Acredito que quando trazemos para nós uma atividade a qual pretendemos tela como fonte de subsistência, a mesma deva ser trabalhada com um foco e uma atenção voltada para o público consumidor, pois de outra forma, não alcançará o resultado esperado, nos forçando à abandonar a profissão ou ter outra fonte de renda. Bom, é minha opinião, espero ter colaborado com a postagem.

Abração Cacau

Cláudia disse...

Fiz uma generalização equivocada. Nem todos levam anos para serem vendidos, mas existe uma boa parcela de obras que ficam sim "encalhadas", geralmente de escritores novos, desconhecidos do público, mais um fator que demonstra as dificuldades desta carreira.